domingo, 30 de setembro de 2007

Capelas e Capelinhas...Fé das gentes

Capela do Rossão

Capelinha de Nossa senhora da Lapa

Capelinha da Cruz



sábado, 29 de setembro de 2007

Os Moinhos

...Entre salgueiros,
Entre amieiros
Ledos, sozinhos,
Moem moinhos
Sem descansar.

Oh, mós nevadas,
Enfarinhadas!
A moega leve,
Branca de neve,
Cheia de pão,
é um coração.

- E que tesoiro
A "quelha" de oiro!

Traves curvadas,
Pedras amaciadas.

Largos cabouços,
Com seus rumores...
Ratinhos loucos
Em seus furores...
O "chamadoiro"
A tremular
Na mó alveira,
- Lua a rodar-
É uma cruzeta
Lembrando o altar...

in "Aldeia" de Rodrigues da Cunha

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Aos portugueses do Brasil

Esta é uma homenagem sentida a todos aqueles que se encontram longe da sua terra...saudosos de um regresso, que por vezes nunca aconteceu...àqueles que distantes levam no seu pensamento a hora de poder voltar ao Rossão... à nossa terra, que mesmo longe nunca esqueçemos... e em particular, a todos os portugueses que partiram do Rossão em busca de um universo de sonhos nas Terras de Vera Cruz...e aos seus descendentes, que sentem na alma o sangue lusitano.

Sentindo da mesma forma por vezes essa distância que me assola, decidi homenagear de uma forma peculiar, os portugueses do Brasil e luso-descendentes, transcrevendo do livro "Moleirinha das Fragas" de Rodrigues da Cunha um trecho que verbaliza estes sentimentos de agradecimento a esses bravos portugueses do Brasil, que carregam o Rossão no seu coração.


Capitulo XXIII

" Depois de se despedir de seu tio Simão, Gariel embarcou em 3ª classe, confundido com centenas de emigrantes, uns e outros sob profunda saudade. Quando o navio levantou ferro, ergeu-se uma nuvem de lenços brancos, tanto no cais como no convés da nave, num arrepio de comoção.

- Adeus!
- Adeus!

E o navio carregado de esperanças, sulcou as águas prateadas do Tejo, sob as asas trementes das gaivotas. Homens rudes, lobos do mar, na faina de pesca, acenavam com os barretes:

- Adeus!
- Adeus!

E Nossa Senhora dos Navegantes, na proa altiva, parecia sorrir, abençoar os pescadores. Depois, o Atlântico. Ondas bravas formavam montanhas, cavavam abismos, rolando. Barquinhos ao longe, de velas enfunadas, semelhavam pétalas esparsas de rosas brancas no livro azul do Oceano.

Caiu a noite incendida de estrelas: pareciam olhos dos anjos a fitar o mundo nos seus anseios e desesperos. Gabriel, recolhido, mal observava o que à volta se desenrolava. O que ele via, através do coração, era a sua doce mulher, os filhinhos mimosos, a sua segunda mãe. E via-os de mãos postas a implorar, a pedir por ele. Então puxava pelo rosário, rezava também. Três semanas de viagem, numa tépida manhã avistou-se Terra de Santa Cruz.


Brasil! enternecido torrão onde a graça medra desde o Amazonas ao Rio Grande do sul, ora na flora virgem, opulenta, polícroma, estonteante de aromas, ora na fauna variegada e rica; não é por teres o peito cravejado de diamantes, ágatas, esmeraldas, ouro, pórfiro e platina, nem por tua fronte vir coroada de gergelim, caroá, cumaru e amendoim que te admiro; nem mesmo por teus lagos repousantes envolvidos de fetos e espargos tropicais, ou por teus portos e cidades. Para além da beleza surpreendente dos teus rios e montanhas, dos teus vales ensombrados e do teu clima tórrido, sub-tropical ou temperado, está a harmonia da palavra igual à nossa, raiz que nos emana de amor e de fé, e porque a tua História é da nossa História; a tua Arte é da nossa Arte; o teu Orgulho a nossa Glória. O Mar, batendo cá e lá, leva e traz o carinho de Portugal e a gratidão do Brasil. E esta gratidão, cantada e recantada pelos teus escritores maravilhosos, poetas admiráveis, políticos insignes, perdurará enquanto o Mar tiver ondas, enquanto o Sol tiver luz. e é por isso que, de um modo especial, os brasileiros recebem os irmãos lusitanos. É por isso que Portugal abraça, dedicadamente, o Brasil."
in "Moleirinha das Fragas" de Rodrigues da Cunha

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Os Penedos

"Nas Sombras da noite os penedos gigantes,
Mosqueando as quebradas,
Semelham vedetas, ou frades errantes,
Por ermas estradas...
Vestidos de musgo amarelo, cinzento,
à luz do luar,
Parecem ascetas de noite ao relento,
Piedosos a orar...

Alguns tão redondos, tão belos, cativos,
São contas de dor
Dispersas nas cristas dos montes altivos,
Dum terço de amor...

Perdidos na serra sem fim, sobranceiros,
Morenos,silentes,
Semelham castelos, castelos roqueiros
De fadas ausentes...
Montados sobre outros parecem galgar,
Despindo o granito,
A longa distância, etérea, sem par,
Do azul infinito!"


in "Aldeia" de Rodrigues da Cunha

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Aldeia



" No sopé da montanha opulenta e gigante,
Junto a um rio modesto,apertado e cantante,

Onde as moitas, fundeiras exaltam a cor,
Bordejadas de amoras ou cardos em flor,

Onde há cómoros verdes em troncos de altar
E, por noites de Junho, o mais lácteo luar,

Entre músicas novas, -(os melros gorjeando)-
E o rezar dos açudes e fontes arfando,

-Eis a aldeia feliz, a serrana ardorosa,
Na labuta cristã, -epopeia gloriosa.

As morenas casinhas, os ninhos ardentes
Da esplanada formosa às campinas virentes.

Os colmados fumegam, - incenso de amor
A esgaçar-se no céu, a abraçar-se na flor!

As janelas estreitas, em musgos, a par,
Por onde entre o suão e o leitoso luar..."


in "Aldeia" de Rodrigues da Cunha