domingo, 6 de janeiro de 2008

Horas Mortas

É noite virginal. A cansadinha aldeia
Placidamente dorme à luz da lua cheia.

O carro de carvalho, as vacas pachorentas
São sonho de epopeia e lutas incruentas…



Da abóbada florida a Lua imaculada
Entorna a sua luz de gema prateada.

Nos brejos tudo é morto… (os brejos e lenteiros…)
Soberbos os mastins remetem dos quinteiros.

Por sobre a aldeia negra, a paz tranquilamente…
No céu, luzes a rir comovedoramente…

Aromas perturbantes, exaltando o Amor,
Nas canforadas urnas, - os giestais em flor.

Os montes levantados, ermos granitosos,
Tocam o céu azul, em beijos amorosos…
Tintilam campainhas, - oh, que tilintar!
Dos gados nos currais, ainda a ruminar.
Ouvem-se os moinhos tristes, erguem-se os outeiros.
Terríveis uivam os lobos em giestais fundeiros!

Desponta a estrela d´alva. Os galos jubilares
No esconso dos puleiros erguem seus cantares.

E a aurora vem rompendo…Expira a Lua cheia…
O toque das “Matinas” espertou a aldeia,

Que montanhesa e linda, implora, embevecida,
Ao “Nosso Pai do Céu”, manancial de vida:

Pelo sinal da Cruz… Senhor, ó Deus dos mares,
Velai por nossos lares,
Por nossas sementeiras.
Guardai os nossos gados ao pastar na serra,
Benzei a nossa terra,
Doirai as nossas leiras.

Deitai a vossa bênção sobre o carro e arado,
Tingi a flor do prado,
Pai nosso…Eterno Bem.
E, ó Mãe da graça, ó mãe formosa, ó Mãe sem par,
Fazei-nos da charrua um terço de rezar
Em vossa glória, amem!


in "A Aldeia" deRodrigues da Cunha