domingo, 8 de junho de 2008

Fontes dos Altos

As fontes
Dos montes
Virentes
Parecem, cantando de noite ao luar
Nas moitas floridas, velar ou rezar
P´las aves
Suaves
Dormentes...

Gorjeiam,
Trauteiam
Canções
às sebes cheirosas, vaidosas, ansiosas,
às hortas garridas, vestidas de rosas:
- Astélias
Camélias
Gamões.

As fragas
São chagas
Da terra,
Se nelas borbulham, rebentam, arrulham,
As fontes prateadas, fulgentes, que orgulham
Os altos
Planaltos
Da serra...

Tão lindas,
Tão lindas,
As fontes!
Chorando sozinhas, cantando, sozinhas,
Canções, serenatas, canções-ladainhas,
Nos matos
Beatos
Dos montes.
Escutam
Tributam
Falares
Aos ventos atentos, às auras benditas,
Às chuvas sonoras, - chuvas infinitas!
Aos folhos,
Escolhos
Dos Mares...

Errante
Viandante
Sequioso
Encontra uma fonte serena, perdida,
E bebe, de joelhos, na encosta florida,
Beijando-a
Amando-a
Ditoso!...
Ó fontes
Dos montes,
Saudosas:
-Sem vós, que seria do rio no estio,
Dos prados asseados, cheirosos, no estio,
Dos prados
Asseados
De rosas?!
Imagens,
Miragens
Do amor,
Poetisas da graça que passa, suavíssimas
Cantoras das flores de cores puríssimas
Dos altos
Planaltos
Em flor:

Ó fontes
Dos montes
De além:
-Benditas, por Deus! nas amargas desditas...
Benditas, nas graças de luz, infinitas,
Ó fontes
Dos montes
Amém!

in "Aldeia" de Rodrigues da Cunha