sábado, 22 de dezembro de 2007

Noitinha

A noite sobre nós se debruçou…
Minha alma ajoelha, põe as mãos e ora!
O luar, pelas colinas, nesta hora,
É água dum gomil que se entornou…

(imagem retirada de www.rossao.com)


Não sei quem tanta pérola espalhou!
Murmura alguém pelas quebradas fora…
Flores do campo, humildes, mesmo agora,
A noite os olhos brandos fechou…

Fumo beijando o colmo dos casais…
Serenidade idílica das fontes,
E a voz dos rouxinóis nos salgueirais…
Tranquilidade…calma…anoitecer…
Num êxtase, eu escuto pelos montes
O coração das pedras a bater…
in "reliquae" de Florbela Espanca

domingo, 9 de dezembro de 2007

Minha Aldeia

Minha aldeia é todo o mundo.
Todo mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
Com gente de todo o mundo
Que a todo o mundo pertence.
Bate o sol na minha aldeia
Com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
Outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
São centenas de milhões

Os homens da minha aldeia
Divergem por natureza
O mesmo sonho os separa,
A mesma fria certeza
Os afasta e desampara,
Rumorejante seara
Onde se odeia a beleza.

Os homens da minha aldeia
Formigam raivosamente
Com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
Cada qual é seu irmão.
Valências de fora e dentro
Ligam tudo ao mesmo centro
Numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que imergem,
Todos os homens convergem
No centro da minha aldeia.

António Gedeão

sábado, 17 de novembro de 2007

Tesouro perdido...na Serra do Montemuro

Data de 1742, a construção da Capela de Nossa Senhora do Refúgio...situada à beira da estrada que de Gosende vai para Campo Benfeito e Rossão , perto de uma fonte de granito...possui três retábulos: o da capela-mor e dois de nave, aos lados do arco-cruzeiro, de talha joanina, dourada. São de admirável riqueza e esplendor....
Nos dias de hoje, a capela encontra-se em estado de restauro...mas que por falta de verba está temporariamente cancelado...(os mecenas já se acabaram)...e só os rendimentos provenientes da capela não chegam para a dispendiosa manutenção deste monumento de uma beleza impar.














sexta-feira, 9 de novembro de 2007

As "Alminhas"

Desmaiados nichos a cismar, musgosos,
Junto dos caminhos:
- Que tendes, nichos, ao cismar, saudosos,
Ó padrões de Crença, meus Padrões chorosos,
A tombar, sozinhos?!...

Foi a ventania que soprou, raivosa?
Foi a ventania?
...Ou a chuva agreste, que bateu, maldosa,
Nessa fronte suave, divinal, formosa,
...Em manhã sombria?
Nichos desditosos que pousais nos montes,
Águias do Senhor;
Nichos vigilantes a guardar as pontes;
Nichos debruçados no pendor das fontes,
Qual a vossa dor?

- Quando a tempestade a fustigar, furiosa,
Corre em ansiedades,
Queda brandamente, junto a nós, bondosa,
Canta-nos estâncias, parte lacrimosa,
Deixa-nos saudades...


in "A aldeia" de Rodrigues da Cunha

sábado, 20 de outubro de 2007

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Um pouco de História...

Existem no Rossão varias cartelas inscritas sobre torsas de portas, bem perto do antigo núcleo de casario do velho concelho, nos tempos em que esta aldeia dispunha de jurisdição própria, sendo uma espécie de “republica” ao estilo medieval françes .

O pelourinho símbolo de virilidade era também sinal de poder Real e Autonomia popular, testemunho vivo das atrocidades cometidas pelo poder judicial, ficava disposto num local de destaque no centro da vila, bem perto da antiga cadeia e casa do município.

Após lutas entre absolutistas e liberais, e com a vitória destes últimos, a aversão aos apoiantes do poder absoluto leva a que muitos desses pelourinhos sejam depostos dos seus locais e suas antigas cartas de foral bem como locais camarários desfeitos…

Contudo na aldeia do Rossão ainda hoje se podem observar cartelas muito antigas…com linguagem indecifrável, e o próprio pelourinho do século XVI ainda está de pé e no local original, assente em laje circular, contudo o seu capitel não mais é coroado..como se supõe ser, visto se encontrar uma cavidade em forma de meia laranja aberta no centro da pedra…

Em outros locais da aldeia, e em antigas casas de pedra encontram-se mais cartelas.. também indecifráveis e algumas acompanhadas de desenhos e respectivas datas de construção…algumas com estrelas lembrando a presença judia autorizada no concelho de Castro Daire por nosso Rei em 1517…

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Helicoptero na piscina do Rossão

Depois de terem ateado o fogo bem perto da Aldeia de Cotelo... na Aldeia do Rossão, bastaram dois telefonemas para o número nacional de incêndios...e eis que de uma forma surpreendente ...passados 15 minutos, apareceriam duas avionetas e um helicoptro perto da ocorrência...bem como carros da Corporação de Bombeiros de Castro Daire....e respectiva Guarda Nacional Republicana...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A minha Casa I

Termo da Aldeia
Entre o arvoredo,
Que lua cheia
Tornava prata,
Poisada em flores.

Eis minha casa,
- um ninho em brasa -
A ouvir , senhores,
Vagos rumores
Duma cascata...

Humilde e leve,
De colmo a branquejar, de neve,
- Oh, sonhos meus!
Plena de amor,
Sorrindo à flor,
Tinha o calor
de Deus!
De umbreiras
Trigueiras,
Colmada a duas águas, baixinha, mui pura,
Sorria, modesta, na luz da ternura:
...As flores
...As cores
...Rumores
...Ventura...
Oitões musgosos,
Silenciados,
Rasgados de buracos, par a par,
Por onde a medo entrava o brando luar...
E no beiral
Esfumaçando,
Engolfado no fumo vaporoso,
Um ninho de esplendores, harmonioso,
Dum real pardal,
...Cantando.
E das janelas
Singelas,
A vista se alongava desde a fonte
Aos eminentes cumes , no horizonte:
...Aqui a seara, além a bouça, além o prado...
Mulheres novas a lavar e a cantar...
Por entre moitas, - que verdor! - pastava o gado...
Agonizantes, mil cincerros a tocar
in "Aldeia" de Rodrigues da Cunha