sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Quem acode às nossas árvores?

Situada a mais de 1000 metros de altitude, a Gralheira não possui arvoredo em abundância. Ainda assim é o amieiro e o carvalho que mais predominam. Há carvalhos com séculos de existência, que nossos pais e avós souberam defender e preservar. Embora tivessem necessidade absoluta de lenha, que compravam em Vale de Papas, não se atreviam a cortar um carvalho para queimarem. Só quando precisavam de fazer um carro ou armar uma casa, é que lhes encostavam o machado ou a serra. Vendê-las? Nem pensar. Viam nessas árvores uma herança, umas relíquias conservadas por seus avós. Tinham-lhe amor. Sentavam-se à sua sombra e orgulhosamente diziam:


- Que ricas árvores que os meus pais me deixaram!


Agora porém tudo parece ser esquecido, em troca de uns magros escudos. Aparecem aqui uns indivíduos à procura de madeira e muitos não hesitam em vender as preciosas árvores que os pais tanto estimaram e que à custa de sacrifícios lhes quiseram deixar. Se o preço fosse tentador e tivessem necessidade de vender, ainda se compreendia: Agora vendê-las a mil escudos cada, como se tem visto por aí, é triste, é desolador, é desumano! Temos que ter consciência de que as árvores que nos deixarem não são nossas, fazem parte da paisagem da nossa terra, que é de todos. a sombra que nos oferecem; o oxigénio e o vapor de água que libertam; a beleza que emprestam à paisagem, são benefícios de que todos usufruímos. Muitos vendem as árvores sem necessidade, como já disse. Quantas vezes esse dinheiro é gasto num passeio ou em almoços fora de casa. Quando regressam o que encontram? O dinheiro desapareceu e as lameiras lá estão nuas, desérticas, torradas ao sol, sem verdura, sem sombra, sem vida! Muitas gerações vão ficar privadas dos benefícios que essas árvores agora cortadas, lhes podiam oferecer, até que outras cresçam e encontrem pessoas mais conscientes que as saibam respeitar e conservar.

Não há razão nenhuma para dizimar as árvores desta forma, nem mesmo invocando o motivo de que as folhas caídas prejudicam o crescimento da erva. Muitas lameiras já não são cortadas, porque as vacas estão a desaparecer.



Já bastam os incêndios para destruírem toda a vegetação, todos os arbustos de menor porte.



Não vendam, cortem as árvores sem necessidade! Preservem a floresta, salvem o ambiente que é a nossa maior riqueza!

Gralheira 24 de Setembro de 1992


in Jornal "A Voz de Lamego", autoria de Carlos de Oliveira Silvestre